Aí vai a segunda parte de minha entrevista para o site do Zuggi.
No “Zuggi Entrevista” de hoje postamos a segunda parte da entrevista com Gládis Leal dos Santos (leia aqui a primeira parte). Neste trecho, Gládis nos conta quais as principais vantagens e desvantagens da Educação à Distância, como a pesquisa na internet deve ser utilizada na sala de aula e por fim, qual o papel da pesquisa no desenvolvimento dos alunos:
1- Em sua opinião, quais as principais vantagens e desvantagens da Educação à Distância (EAD)?
Quando pensamos em EAD, hoje, pensamos em educação online. Através da internet temos acesso aos mais variadas tipos de cursos, desde cursos livres a especializações em praticamente todas as áreas. A oferta de cursos na modalidade EAD tem crescido notavelmente. O programa Universidade Aberta, do Governo federal, “busca ampliar e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior, por meio da educação a distância. A prioridade é oferecer formação inicial a professores em efetivo exercício na educação básica pública, porém ainda sem graduação, além de formação continuada àqueles já graduados” (
portal.mec.gov.br).
Para muitos professores esta é uma oportunidade única, em virtude de dificuldades tanto financeiras como de falta de oferta de cursos presenciais em suas cidades. Nesta modalidade de estudo o aluno organiza seu tempo e pode realizar os estudos em casa, no trabalho ou onde tiver acesso à internet, economizando tempo e dinheiro.
Além disso, as aulas online beneficiam pessoas com mobilidade limitada, como cadeirantes, por exemplo. A maioria das aulas são assíncronas. Os materiais e tarefas podem ser baixados e enviados ao professor através do ambiente EAD até a data marcada. Deste modo, o cursista não precisa ficar conectado à internet durante todo o tempo de estudo.
Outra vantagem que considero importante é que o aluno desenvolve a autonomia ao mesmo tempo que tem a oportunidade de participar de uma comunidade de aprendizagem em rede. Ele interage com pessoas de outras localidades, outras realidades, onde todos constroem novos conhecimentos através da contribuição de cada um.
A EAD também promove a inclusão digital. Os alunos aprendem a utilizar ferramentas de comunicação assíncronas como os fóruns e e-mail e síncronas como chats, comunicadores instantâneos e videoconferências. Nesta modalidade a relação professor-aluno também se modifica podendo até mesmo se tornar mais próxima já que a principal função do professor não é a de ensinar, mas a de ajudar o aluno a aprender.
Mas o formato EAD não é ideal para todos os alunos. Quem prefere o contato presencial sentirá falta deste tipo de interação social. Poderá se sentir sozinho e perdido num ambiente pouco amigável. O ensino online requer capacidade de adaptação às novas tecnologias. Aqueles que tem dificuldade em utilizar o computador e a internet tendem a se desmotivar e abandonar o curso. Além disso, o estudo a distância exige muita disciplina, comprometimento e organização do tempo. Alunos que deixam as atividades acumularem e perdem prazos também são fortes candidatos à desistência.
A evasão é um dos grandes desafios a serem vencidos na EAD, principalmente nos cursos ofertados gratuitamente.
2 – Ano passado você ministrou o curso “Pesquisa na internet – o papel do professor” do portal Educarede. Como, em sua opinião, a pesquisa na internet deve ser utilizada na sala de aula? Qual o papel da pesquisa no desenvolvimento dos alunos?
As crianças são naturalmente pesquisadoras. Desde muito cedo, começam a nos questionar o por quê das coisas, como elas funcionam, de onde vem, como são feitas e por aí afora. Na Educação Infantil, os professores costumam estimular este espírito investigativo através de várias atividades e projetos didáticos em que acompanham e orientam os pequenos em suas descobertas.
Já no Ensino Fundamental, muitas vezes, essa prática se perde. As pesquisas passam a ser solicitadas como tarefas de casa, e aí sabemos o que acontece: sem orientação, os alunos simplesmente copiam da internet da mesma forma como, antes, copiávamos das enciclopédias. E quando se trata de alunos das séries iniciais, quem acaba fazendo o trabalho de pesquisa é o pai ou a mãe. Qual o objetivo desse tipo de trabalho? O que se espera que o aluno aprenda com este tipo de prática? Para que os alunos aprendam a pesquisar na internet assim como em livros, jornais, revistas que também devem ser usados, é preciso que a atividade seja desenvolvida em sala de aula, com o acompanhamento do professor. Antes de qualquer coisa, o professor precisa planejar a pesquisa, verificar as fontes e elaborar um roteiro com questões sobre o assunto. Dependendo do nível da turma é aconselhável que também indique os sites. Na internet é muito fácil perder o foco do trabalho, por isso, um roteiro bem elaborado ajuda muito.
Muitas vezes, os professores acham que os adolescentes não precisam deste tipo de acompanhamento porque são usuários da internet. Mas não é bem assim. Quando de trata de pesquisa é preciso que aprendam a tirar o melhor proveito dos mecanismos de busca, que observem a confiabilidade das fontes, que entendam que nem tudo o que está na internet é verdadeiro, que aprendam a citar as fontes de pesquisa na internet e que respeitem os direitos autorais.
As atividades de pesquisa, quando bem planejadas e orientadas, desenvolvem o pensamento crítico, a resolução de problemas e a tomada de decisões. Os alunos aprendem a encontrar as informações e selecionar o que é relevante e descartar o que irá afastá-los do objetivo do trabalho. É preciso que eles aprendam a usar a internet para analisar as informações e não apenas localizá-las.
Também é importante que os alunos tenham claro o que se espera deles e como será socializado o resultado da pesquisa. As informações podem ser remixadas, transformadas, ampliadas e apresentadas das mais diferentes formas. Apresentações teatrais sobre um fato histórico, por exemplo, exigirão que os alunos compreendam o conteúdo para poder transformá-lo em uma representação cênica..
Ao acompanhar o desenvolvimento do trabalho de pesquisa, o professor tem a oportunidade de observar as dificuldades dos alunos e orientá-los durante o processo em vez de apenas avaliar o produto final.
Gládis Leal é Especialista em Língua Portuguesa e Mídias na Educação, ministra cursos e oficinas de formação continuada docente sobre o uso das TIC na Educação.